segunda-feira, 19 de abril de 2021

Heráclito de Éfeso e a doutrina dos contrário

Heráclito de Éfeso, pré-socrático, era de uma família aristocrática e viveu maior parte do seu tempo na sua cidade natal, Éfeso. Dos escritos de Heráclito, sobraram cerca de 100 fragmentos nos quais são constituídos majoritariamente por epigramas, se tratando de questões relativas ao cosmo e a alma.

 

O fluxo, o fogo e a unidade cósmica foram os principais temas de debates de Heráclito e vou expor nessa postagem um dos fragmentos do filósofo em relação suas principais ideias.


"Da luta do contrário é que nasce a mais bela harmonia"

Esse fragmento de Heráclito tem como intuito debater a mudança constante que acontece com todas as coisas no mundo sempre na alternância dos contrários, que seria o devir. Heráclito defende que todas as ações que acontecem no mundo do qual poderíamos julgar bom ou ruim, seria a perfeita harmonia para que haja a existência de forma plena, esse raciocínio é chamado de Doutrina dos Contrários, na qual seria essencial para a ordem na vida. Ex:

 

Claro e escuro, quente e frio, úmido e seco, felicidade e tristeza, guerra e paz, dor e prazer.

 

A partir dessa guerra dos contrários citado acima, é que nasce a harmonia na vida e no cosmos(ordem) na terra. Essa teoria que é baseada numa lei que ele mesmo definiu como uma relação de interdependência entre os opostos, portanto, eles se dependem constantemente para coexistir, embora de formas alternadas. Um exemplo claro seria a dor, pois só sabemos quando estamos bem e saudáveis por experimentarmos o contrário disso. Eu só sei que estou bem, se eu souber quando eu estiver mal.

 

Essa dualidade proposta por Heráclito, que seria um conflito (polemos), mas que na realidade para o filosofo é a harmonia entre os contrários que se define como o logos (razão), a lei universal da natureza. Essa doutrina que vem de um princípio que está em todas as coisas desde a sua origem, que é o fogo.

 

Para Heráclito tudo seria uma troca de fogo, e o fogo uma troca de todas as coisas, assim como podemos trocar peças e mercadorias com outra pessoa, se faz idêntico o fogo com as coisas. Temos uma interdependência com fogo, e Deus seria o fogo a forma arquetípica da matéria, e o mundo seria "um fogo eterno", e partes dele, em concordância com o principio do Logos, que vai dar força a sua principal teoria de unidade das coisas, o fogo seria a principal unidade para tudo.

 

"Todas as coisas são uma mesma mudança para o fogo e, do fogo, para todas as coisas como os deuses são para o ouro para os deuses."

 

Retomando ao princípio da construção da teoria de Heráclito, o comentador dos fragmentos do filósofo, Charles Khan, debate a doutrina dos opostos a partir do primeiro enigma explicito de Heráclito após suas contradições sobre as ideias de Hesíldo sobre dia e noite, no fragmento XIX, quando Heráclito afirma que dia e noite são um. Kahn aponta que:

 

"Essa doutrina, conforme expressa identificação do ciclo de dia e noite, é ela mesma um simbolo e um indice para o entendimento da vida e morte humanas como unidade, que compõem a intuição central daquilo que Heráclito chamava de sabedoria." (145)

 

Então um dos pontos ideais para a identificação nos fragmentos de Heráclito sobre a constituição dos contrários são suas críticas feitas a Hesíldo, por ele achar os contrários completamente opostos e não algo homogêneo.

 

Kahn também acredita que a partir do fragmento XXVII em que Heráclito diz: "para reconhecer o sábio, ponha separado de tudo." Nesse fragmento é que Heráclito começa a desenvolver sua doutrina de unidade, divergindo agressivamente de Homero e Hesíldo nas suas ideias de total divergência das coisas, ou seja, cada coisa é uma coisa.

 

Collinson no seu livro, os 50 maiores filósofos da história, faz uma sucinta passagem por Heráclito trabalhando em torno do eixo principal da ideia do filosofo, um dos fragmentos em que Collison se deleita para debater a mesma teoria é a do Logos.

 

"Escutando não a mim mais o Logos, é sábio concordar que todas as coisas são uma"

 

Heráclito assinalava que se por acaso os conflitos cessassem, cada um fosse uma coisa nos dando a oportunidade de eliminar qual queiramos, se perderia a razão de algumas facções superarem outras, significando que o mundo como nós conhecemos deixaria de existir, pois perderia a razão de ser.

 

Os contrastes são necessários para a nossa sobrevivência, para a sobrevivência de todos os seres, visto que se fizermos uma analise de que a morte de um é a sobrevivência de outro, a doença não deixa de ser a vida de um ser (parasita) em algum corpo (hospedeiro) já vivo, ou quem sabe em sua visão, a natureza talvez não seja tão duradoura como ela é senão fosse seus ciclos de mudanças como a morte e nascimento de cada estação. 

 

REFERENCIAS:

 

Kahn, Charles; a arte do pensamento de Heráclito - Editora Paulos 2009-SP

 

Collinson, Diané; os 50 maiores filósofos da história - tradução, Mauricio Waldaman e Bia Costa. Editora Contesto - 2009

 

G.S KirK - J.E Raven; Os filósofos pré-socráticos - Editora fundação Calouste Gulbenkian 5º edição, 2003

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